terça-feira, 27 de julho de 2010

A dor de existir - de Lionel Fischer (26/07/2010)


"Náufragos"

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A dor de existir

Lionel Fischer

Como todos sabemos, aqueles que habitam este curioso planeta podem ser enquandrados, a grosso modo, em duas categorias: aqueles que seguem o mesmo, reto e imutável trilho ditado pela moral, pelas convenções e premissas que interessam àqueles que detêm o poder, ou uns poucos que se arriscam a transpor essas cerceadoras fronteiras, embora desconhecendo por completo as paragens que estão à sua espera. Estes últimos normalmente são catalogados como loucos. Mas de fato o seriam? Ou será que podemos encará-los como pessoas que, nessa espécie de terra-de-ninguém, ainda assim insistem em caminhar, mesmo que eventualmente se perdendo, mas certamente buscando traçar uma pista?

No presente caso, estamos diante de dois homens que se recusaram a fazer dos passos convencionais o roteiro obrigatório dos seus. Portanto, nada mais lógico que tenham sido excluídos de nossa salutar sociedade e submetidos a bárbaras torturas, prosaicamente denominadas "procedimentos médicos", em instituições psiquiátricas. Mas um dia ambos escapam da pavorosa prisão e saem pelas ruas, como no passado o fizeram por infinitas paragens Dom Quixote e Sancho Pança, não necessariamente para enfrentar moinhos de vento, mas para se confrontar com eles mesmos e com o mundo que os cerca.

Eis, em resumo, o enredo de "Náufragos", do dramaturgo italiano Massimo Bavastro, que encerra na próxima sexta-feira sua temporada no Teatro Maria Clara Machado (Planetário da Gávea). Com tradução de Nicola Lama e direção de Alessandra Vannucci, a montagem tem elenco formado por Arthur Schreinert (Dom Quixote) e Marcelo Aquino (Sancho Pança) - por razões que não cabe aqui detalhar, Arthur Schreinert substituiu Nicolo Lama no espetáculo que assistimos.

E este, por sinal, certamente deve causar espanto e gerar incertezas no espectador. Sim, pois aqui não se trata de uma tentativa de materializar na cena reencarnações dos dois célebres personagens criados por Cervantes, e assim avaliar como agiriam no mundo atual. Muito pelo contrário. E se estamos diante de duas almas indefesas, sujeitas à humilhação constante, que eventualmente dançam uma dança lenta e irreal e cantam músicas que pouca gente conhece, o que interessa são os seus murmúrios que se insinuam pelos cantos, pelas escadarias de cobre, pelas consciências adormecidas e intactas. Como as nossas, de uma maneira geral.

Em última instância, quem são esses andrajosos que parecem realizar trágicas orgias sobre a campa das próprias sepulturas? Certamente eles representam a muitos de nós, cuja insatisfação nos levou muitas vezes a indagar: de que serve, com a lama até o pescoço, manter limpas as unhas nas pontas dos dedos? E talvez por isso - ao menos no meu caso - me identifiquei tanto com os personagens, e creio que muitos espectadores também o fizeram. Agora, como lidar com a dor de existir, aí trata-se de uma questão pessoal, mas sem dúvida inadiável.

Valendo-se de marcações ousadas e imprevistas, surpreendentes alterações rítmicas e de um universo gestual impregnado de beleza e tragicidade, a encenadora Alessandra Vannuci nos oferece um espetáculo que merece ser prestigiado de forma incondicional pelo público - ou ao menos pela parcela de público que não encara o teatro como couvert de inevitáveis pizzas. E isto também se deve à ótima atuação dos intérpretes, que exibem não apenas vastos recursos expressivos, mas também notável capacidade de se entregar apaixonadamente aos complexos personagens aos quais dão vida.

Na equipe técnica, destacamos com total entusiasmo os trabalhos de todos os profissionais envolvidos nesta mais do que oportuna empreitada teatral - Marcelo Aquino (figurinos), Paolo Vivaldi (trilha sonora), Fred Tolipan (iluminação) e Nicola Lama (tradução).

NÁUFRAGOS - Texto de Massimo Bavastro. Direção de Alessandra Vannucci. Com Marcelo Aquino e Arthur Schreinert. Teatro Maria Clara Machado. Sexta-feira, 21h.

domingo, 27 de junho de 2010

Veja Rio indica

Finalmente conseguimos um espaço na programação da Vejinha, e olhem só que maravilha: nosso espetáculo foi indicado com quatro estrelas e ganhou destaque na seção "Veja Rio recomenda"! Estamos muito orgulhosos e felizes com esta notícia que para nós é uma conquista e a confirmação de que estamos indo na direção certa.
Quero transcrever neste post as palavras que Marcelo escreveu em um email de divulgação para os amigos:

BOAS NOTÍCIAS

Queridos amigos!!

É sempre bom compartilhar boas notícias.
O espetáculo "Náufragos" onde atuo ao lado de Nicola Lama sob a direção de Alessandra Vanucci, foi eleito pela Veja Rio como um dos melhores espetáculos em cartaz na cidade. Isso é muito bacana se pensarmos que é uma produção sem patrocínio e está no ranking dos melhores ao lado de super produções musicais. Isso reafirma a esperança no teatro, como espaço primordial do ator.

Espero todos lá no Planetário as sextas de julho sempre ás 21hs.

Beijos á todos.

Marcelo

terça-feira, 22 de junho de 2010

Apresentação no FITA de Angra

Que maravilha! Viemos novamente para Angra para participar do FITA com a Alessandra (a primeira vez foi em 2008 com o monólogo "Herói"). Como no ano anterior a programação do festival foi muito bacana, e a organização do evento eficiente e atenciosa. Única diferença foi que este ano o teatro Municipal (onde apresentamos Herói na edição anterior) não participou do evento, o que fez regrupar todas as peças na Praia do Anil, nas duas tendas do Palco Sesc Rio e do Palco Transpetro (neste último apresentamos Náufragos).
Inútil ressaltar que um festival em um lugar de praia tão bonito quanto Angra, com seus maravilhosos resorts no litoral, tem um charme especial!
O público de Angra é bem receptivo e nossa apresentação foi um momento muito especial de troca com a platéia que se emocionou e nos emocionou de volta. No final do espetáculo a Alessandra foi entrevistada e a matéria pode ser lida aqui.

O lindo resort que nos hospedou, muito cedo de manhã, antes mesmo dos patos acordarem...

A équipe ao trabalho montando luz e cenário, subindo e descendo o grid. Esta galera não descansa 1 minuto durante a mostra inteira, mas fica sempre alto astral.

Ao trabalho... este momento foi muito lindo mesmo.

Que tal o marrrrr... bem na beira da praia!! A gente quasi abriu o pano de fundos e terminou a peça dando um mergulho ;)

Um brinde ao evento... obrigados Angra!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

sábado, 5 de setembro de 2009

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Larissa Maciel nos camarins de Náufragos

Nossa muito querida e muito gaùcha amiga Larissa veio dar um pulo nos camarins do CCJF depois da apresentação. Terminamos o encontro juntando toda a équipe lá em casa para comer moqueca e sangrioska branca tuttifrutti.

Ary Coslov fala de "Náufragos"

Fiquei surpreso com a qualidade do texto e da encenação de "Náufragos" no Centro Cultural da Justiça Federal. Não conhecia o autor, um italiano de 40 anos, roteirista de cinema também, nem o trabalho de Alessandra Vannucci, a diretora. Ambos, autor e diretora, são de primeiríssima categoria. O texto, bem traduzido, pode, numa primeira impressão, nos remeter a Beckett, mas tem características próprias, misturando drama e comédia, nos envolvendo emocionalmente naquela relação absurda entre aqueles dois seres, uma recriação bem particular de Dom Quixote e Sancho Pança, aliás muito bem interpretados por Nicola Lama e Marcelo Aquino, e na relação dos dois com a grande cidade que os cerca e os desafia. A música é excepcional, as imagens são fortes - aí incluídos os figurinos, os movimentos, às vezes circenses, e o uso de efeitos altamente teatrais. Enfim, um espetáculo surpreendente e de grande impacto.

Ary Coslov